Haja paciência!

A imprensa anuncia que uma «mega-estrela» internacional, a viver o que aparenta ser um casamento disfuncional, pretende comprar uma casa no Allgarve para aí passar a residir com os filhos, e as autoridades locais logo rejubilam: “Gostamos que pessoas como ela vivam em Lagos. Ela já demonstrou um forte sentido social. Acho que vai fortalecer os laços familiares.” Pode ser até [digo eu, claro] que resolva adoptar mais umas quantas crianças, que desta forma terão uma oportunidade de escapar a um destino semelhante ao que teve aquela infeliz Joana, que vivia para os lados da Mexilhoeira Grande. Rejubilam, ainda, os incautos leitores, aliviados por descobrir que malgré tout, gente de «categoria» está disposta a viver neste país que outros, na revista ao lado, vêm condenado, porque «o regime acabou, faliu». Nesta Babel mediática, em que diariamente chafurdamos, é difícil ter uma noção minimamente verdadeira do «país real», dos costumes e carácter das suas gentes, mas se tivesse de escolher talvez optasse por esta aqui : mais de 700 pessoas reuniram-se numa quinta isolada para jogar à batota e acabaram vítimas de um assalto perpetrado por 3 deles. Ora é esta mesma multidão de gente anónima, insuspeita, impoluta, gente que todos os dias ouvimos clamar, indignada, e emitir juízos a torto e a direito, sobre tudo e todos, que os media convocam para julgar, no tribunal da «opinião pública», outros que, não sendo «mega-estrelas» populares, serão credores, pelo menos, de respeito. Veja-se, a título meramente ilustrativo, este exemplo. Haja paciência!

Tempos modernos

Um ex-secretário de Estado e ex-presidente de um banco, que se encontra detido à ordem de um processo judicial, foi hoje à Assembleia da República afirmar que um seu ex-colega de governo, presentemente conselheiro de Estado, prestou falsas declarações à dita Assembleia num assunto sobre o qual já se havia pronunciado o vice governador do Banco de Portugal, cuja versão o ex-secretário de Estado, agora ouvido, confirmou. Depois de ler o artigo no Público fiquei para aqui a pensar se todos estes actores agora em cena no palco mediático têm o potencial necessário para destronarem estas outras estrelas dos tempos modernos, ao nível das audiências. Confesso que tenho dúvidas, e o facto de ter dúvidas sobre o que verdadeiramente é importante para os meus concidadãos talvez explique o (mau) estado a que chegou esta República...